Viciado em Cinema e TV

terça-feira, julho 05, 2005

Crítica: Crash

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"It's the sense of touch any real city you walk you brush past people, people bump into you, you know, in L.A. nobody touches you. We're always behind this metal and glass. It's the sense of touch. I think we miss that touch so much, that we crash into each other just so we can feel something."

"You think you know who you are? You have no idea."

Estas duas expressões retiradas do argumento de "Crash" ("Colisão", na sua versão em Português) definem-no de forma exemplar. "Crash" é um filme sobre ódio e amor, reflexão e inconsciência, solidão e companheirismo.

A história do filme retrata dois dias da vida quotidiana de Los Angeles, mostrando situações sucessivas de confronto entre os vários segmentos etnicos que podem-se encontrar lá (brancos, hispânicos, negros, persas, chineses, tailandeses,...) e pertencentes a diferentes classes sociais. É aqui que o filme se distancia dos habituais filmes de "cruzamentos de personagens" (um bom exemplo desses filmes é "Magnólia"), focando a sua discussão principal no racismo e xenofobia. O conceito de choque refere-se à situação de isolamento que nos condenamos, em grandes cidades, de defesa do nosso pequeno mundo, e da inevitável colisão, visto que afinal não estamos sós, quando queremos culpar outros por aquilo que realmente diz respeito a nós. Só aí é que o mundo deixa de estar no nosso "ambiente" para ir para além dele.

Apesar de dotado de um certo sentido de "hollywood happy ending", é um filme que não acusa nenhuma personagem moralmente, mas opta por usar essas personagens, tão facilmente identificáveis em nós, para confrontar o espectador com a realidade de que não há acção sem reacção, não há lados culpados, mas sim acções condenáveis. Quando a personagem de Matt Dilon e diz ao jovem polícia idealista "Pensas que sabes quem tu és? Não fazes a mínima ideia.", na verdade, é o realizador a falar connosco. Nenhum de nós pode condenar qualquer uma das personagens como pessoa, porque provavelmente, em um momento da nossa vida iremos fazer igual ou pior.

Sendo um dos poucos filmes que tratam este assunto desta forma, tornam "Crash" um filme refrescante que por momentos atinge o seu objectivo. Contudo, pessoalmente, encontrei no seu positivismo um sinal enfraquecedor do seu todo, minando a sua discussão amoralista com um desejo de confortar o espectador em vez de o confrontar até às últimas consequências. Por isso, leva uma classificação mais baixa do que eu esperaria dar-lhe.

Filme mais adequado para ver naqueles momentos em que estamos dispostos a enfrentar a realidade em vez de fugir dela... Não é definitivamente um filme de pipocas, nem um filme para ver superficialmente.

3 estrelas
Bom

Nuno Cargaleiro @ 18:33


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