Viciado em Cinema e TV

domingo, março 12, 2006

Crítica: Aeon Flux




Aeon: I had a family once, I had a life. Now all I have is a mission.



Para aqueles que andem distraídos, ou simplesmente recusam-se a ver a MTV, "Aeon Flux" é uma das séries de animação com mais sucesso que passam neste canal de música. Ambientando-se num cenário futurista, apresenta-nos uma visão pouco positiva do que nos espera: um mundo de aparência perfeita, mas onde o "cidadão comum" não tem voz real, estando instituída uma ditadura, sem lugar para noções como liberdade e democracia. Aeon Flux é o nome de uma das rebeldes, a mais eficiente e por vezes, a mais fria e determinada a fazer cair este regime ditaturial!... Uma das principais razões do sucesso da série de animação parte da complexidade que é atribuida à história, e à densidade das várias personagens, sobretudo as protagonistas, em que encontramos indivíduos com conflitos internos, muitas vezes oscilando entre a razão e a paixão, sobre aquilo que se quer fazer ou aquilo que tem de ser feito.

Não é de estranhar que este projecto tenha sido transposto para o cinema. Contundo, a questão que se colocava desde o início seria: até que ponto seria fiel ao original, até que ponto não acabaria por vender-se a um mercado grosseiro, de dissipa o complexo em "carne picada sem tratamento", mas com muito "molho especial", para tentar enganar o gosto!... Resultado: "Aeon Flux" (o filme) acaba por ser uma porcaria insípida, mas com muito bom aspecto.

Os aspectos positivos passam sobretudo no casting de Charlize Theron (que não consegue ir mais além com a personagem do que lhe é permitido), no bom elenco presente (Frances McDormand, Sophie Okonedo, Jonny Lee Miller, Marton Csokas, e um cameo rapidíssimo de Stuart Townsend, o actual de Charlize Theron) contudo subvalorizado, no cuidado cenográfico de todo o ambiente do filme, e em todos os aspectos visuais do filme, porque "os olhos também comem"!...

O problema começa com a escolha de realização. O realizador Karyn Kusama levou a cabo o seu último, e único, projecto em 2000. O filme "Girlfight" (onde foi "revelada" a latina mais "dura" de Hollywood Michelle Rodriguez) é um bom filme, tendo tornado-se um filme de referência sobre a temática do boxe feminino (com muitos melhores resultados, e mais verosímeis, do que "Million Dollar Baby"). Pode-se discutir a "falta de experiência" do realizador, ou a passagem não recomendável de "um registo para outro completamente diferente". De uma maneira geral, não faz nada que pudesse "salvar" o filme, e a direcção de actores é praticamente inexistente. As cenas de luta são "confusas" e cheias de cortes, de modo a "desculpar" qualquer limitação de movimentos dos actores, ou a falta de investimento numa boa coreografia. Enfim!...

Mas o pior de tudo era aquilo que já se temia à muito desde o momento em que o argumento foi entregue nas mãos de uma equipa que nunca trabalhou na série, e cujo o último projecto foi "The Tuxedo"!... É preciso dizer mais?... Falar num filme para a "geração MTV" não quer dizer fazer um filme triturado e sem conteúdo ou sentido!... É com grande dor que vi que onde antes existia complexidade, agora existe linearidade. Onde antes sentia-se um confronto interno, agora vê-se superficialidade. Onde antes discutia-se subtilmente sobre "questões socio-políticas", agora vive-se um espaço oco, onde não existe espaço nem para o eco do nosso desespero!... Enfim!... É muito, muito, muito mau!...

Não vejam este filme!... É preferível que façam um esforço e procurem conhecer a série de animação!...

Mau
1 Estrela

Nuno Cargaleiro @ 18:41


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