Viciado em Cinema e TV

domingo, fevereiro 19, 2006

Crítica: The Descent



Trailer

"Rebecca: The noise she's making, she'll bring every one of those things down on her head.
Sam: As long as it's not on mine."

Quem de vós tem curiosidade de procurar determinados filmes, mesmo que não apareçam no circuito das disribuidoras de cinema, devido a análises positivas que tiveram por amigos ou imprensa especializada?... Por vezes encontram-se pequenas pérolas, que mesmo que apresentem defeitos ou que não sejam uma obra que por si é uma referência, apresentam uma promessa para trabalhos futuros de qualidade por parte daquele Realizador... Tal aconteceu comigo com o caso de Neil Marshall.

Em 2002, este realizador apresentou ao mundo "Dog Soldiers", uma história que envolvia o confronto de Lobisomens e Militares de Forças Especiais numa luta desigual e cheia de gore e metáforas escondidas... Este projeco fez com que fosse um dos nomeados para o prémio de Melhor Filme Internacional de Fantasia, no Fantasporto de 2003.

Há cerca de alguns meses tive a oportunidade de encontrar uma cópia num videoclube e após vê-lo, tive vontade imediata de ver outros filmes de Neil Marshall, pois este apresenta-nos filmes de "terror" como deve ser, isto é,... não há só vítimas e um mal envolvido, existe sempre um conceito, e as suas personagens apresentam conteúdo,... o que já por si é uma diferença, comparado com muitos filmes do género!...

O caso de "The Descente - A Descida" não é diferente. Aliás, creio que a sua "sensibilidade" aumentou, desenvolvendo de forma coerente um conceito que já por si é bastante interessante.

Um grupo de amigas (neste filme só há praticamente personagens femininas) decide reunir-se para um "fim de semana radical" explorando uma cadeia de grutas. Esta situação até seria normal, não fosse o objectivo do encontro confortar um dos elementos que ainda procura recuperar-se de uma tragédia familiar recente. Praticamente todas conhecem-se, e o pretendido é somente passar um tempo entre amigas, e divertirem-se... O problema é que possivelmente a cadeia de grutas não é exactamente a mesma que muitas delas estariam à espera, e para além disso, elas não estão propriamente sozinhas, tendo de confrontar-se com "figuras" que não estão muito longe da imagem assustadora dos nossos "monstros infantis"!...

Por entre situações "inesperadas", Neil Marshall conduz estas seis amigas cada vez mais para dentro desta cadeia de grutas, e cada vez mais perto do seu espírito primitivo!... As imagens são cada vez mais escuras, claustrofóbicas até, onde ao espectadores só resta suster a respiração diante a forma como é "manipulado", envolvendo-se cada vez mais na narrativa... Com o tempo vemos amizades a fragmentar-se, pequenos ódios a vir ao de cima, e o conflito inerente a cada uma das personagens entre manter o espírito de sobrevivência ou a loucura... A noção de "Descida", representa-nos a descida de cada um ao mais profundo de si, apresentando e confrontando-nos com determinados aspectos que possivelmente não gostariamos de admitir... Esse é que é o terror supremo. Os "monstros" só estão lá para "apanhar os despojos"...

Boa fotografia, cumprindo a sua tarefa de construir o clima de suspense, claustrofobia e temor pelo escuro. A realização, como já tive oportunidade indicar, é bastante interessante, fugindo a muitos clichés que poderiamos eventualmente esperar num filme de terro. A cena final é drasticamente um exemplo disso, criando um sentimento agridoce no espectador...

As interpretações conseguem envolver-nos, permitindo identificação com as personagens, que num filme de terror, onde tudo é "fantástico" e irreal, torna-se uma condição essencial para a qualidade do projecto. Destaque especial para as actrizes Shauna Macdonald (que interpreta Sarah) e Natalie Jackson Mendoza (que interpreta a "líder" do grupo, Juno), que conseguem, em seguimento ao argumento de Neil Marshall, construir duas protagonistas que vão além do superficial, onde a complexidade da personalidade de cada uma é assumida, e levando a alguma ambiguidade, da nossa parte, quanto à nossa opinião de cada uma.

"A Descida" é um bom filme de terror, e um bom filme por si. Ideal para ver em ambientes escuros, e em momentos em que não seremos incomodados por ninguém. Por isso, se virem em casa, desliguem telemoveis, telefone fixo, a campainha da porta, o alarme do carro, e fechem-se no escuro, e deixem-se envolver... Não se vão arrepender!...

Muito Bom
4 Estrelas


Nuno Cargaleiro @ 16:33


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