Viciado em Cinema e TV

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Crítica: King Kong




"And lo, the beast looked upon the face of beauty. And it stayed its hand from killing. And from that day, it was as one dead."


Existem pelo menos três certezas com este filme: Peter Jackson ao ter liberdade de realização consegue fazer um filme sem cair nos clichés que poderiam ser habituais num remake deste género, Naomi Watts é uma actriz que está definitivamente para ficar na história do cinema (tendo uma interpretação em que comunica mesmo quando não existem diálogos), e os efeitos especiais de hoje em dia podem fortalecer uma produção cinematográfica sem serem o centro da mesma.

King Kong poderá não ser um blockbuster no verdadeiro sentido da palavra, e daí é perfeitamente compreensível que não atinja o sucesso dos filmes de "Senhor dos Aneis". Essa situação deve-se à aposta em desenvolver emotivamente a relação Ann e Kong, e também devido a não um Vilão "comum", pois se virmos bem as coisas, os vilões são a sociedade actual, os bicharocos no mato, e o homem que na sua ganância e arrogância condena "as minorias" e aqueles que não entende e que nem pretende entender...

A presença de Adrien Brody como interesse amoroso da personagem de Naomi Watts serve exclusivamente para personificar o indíviduo que nunca parará até "salvar" a sua amada, de modo a que ela não permaneça sozinha no final desta tragédia, e para retirar qualquer conotação sexual à história de Kong.

No fundo, este filme fala sobre um assunto que ainda hoje é bastante actual: os desadaptados, aqueles que são sós, e que quer seja na cidade ou na selva não são comprendidos... Ann Darrow (Naomi Watts) e King Kong são dois exemplos disso mesmo, que após uma primeira impressão algo atribulada, consegue estabelecer uma relação de afinidade/amizade que lhes desperta o instinto de protecção mutua, mesmo que isso coloque em risco a sua própria integridade física. Toda a tecnologia utilizada serve para criar o ambiente a esta história, de modo a que esta possa fluir de um modo mais credível (como exemplo, as expressões da face de Kong são prova disso), mas centrando-se sempre nas personagens em vez do meio físico que as rodeia.

Verdade seja dita, todos já sabemos perfeitamente o final do filme, e com a consciência disso, Jackson utiliza passagens no filme para aumentar a intensidade da tragédia, e fazer-nos temê-la, apesar de sabermos ser inevitável: um exemplo disso passa na conversa entre Jimmy (Jamie Bell) e Hayes (Evan Parke) em referindo-se a um suposto livro que Jimmy está a ler (Jimmy: "This isn't an adventure story. Is it, Mr. Hayes?" /Hayes: "No, Jimmy. It's not.").

Nessa tragédia, traduz-se a beleza do filme... numa forma de nos incomodar sobre as tragédias provocadas pela nossa sociedade, que seriam tão fáceis de entender se não fossemos tão seguros das nossas certezas...

Filme espantoso, que só me dá mais curiosidade para futuros filmes de Jackson e de Naomi Watts...

Excelente
5 Estrelas

Nuno Cargaleiro @ 18:19


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