Viciado em Cinema e TV

segunda-feira, agosto 08, 2005

Crítica: O Despertar da Mente


Mary (Kirsten Dunst): How happy is the blameless Vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd.

Um dos filmes mais românticos de sempre.

Brilhante, inspirador, criativo, estranho, determinante. Estas são algumas das definições que se encontram pelos foruns na net sobre este filme. É impossível ficar indiferente ao mesmo, ou se adora, ou se odeia profundamente, se bem que esta última é normalmente uma hipótese remota. A razão para isso é que este é de facto um BOM FILME...

A questão principal do filme é: seria capaz de esquecer "um erro", uma relação, ou pessoa, se tivesse possibilidade? Seria capaz de apagá-la completamente da sua memória, esquecendo tudo que tivesse vivido e passado com ela? Quais seriam as implicações de um procedimento dessa natureza? Ficariamos libertos para prosseguir as nossas vidas, ou estaríamos destinados a repetir os nossos erros indifinitivamente, visto que não podemos lembrarmo-nos do que aprendemos com eles no passado? O argumento é Charlie "Being John Malkovich" Kaufman, com a realização geniosa de Michel Gondry.

Jim Carrey e Kate Winslet estão absolutamente fantásticos, encarnando personagens completamente diferentes do que nos habituaram: enquanto que Carrey tem um presença contida e introspectiva, Winslet é a figura extrovertida e algo neurótica e psicótica. O mais espantoso é a química que apresentam, envolvendo-nos por completo na vida daquele casal. Eles são Joel e Clementine, um casal que se conhece por acaso e se envolve numa relação intensa que com o tempo acaba por descarrilar e levar à ruptura. Após isso, é com choque que Joel descobre a sua ex-namorada "encomendou" um processo a uma clínica que fez com se esquecesse por completo dele. Revoltado, Joel decide impulsivamente fazer a mesma "operação", mas é no meio de todo o procedimento que ao "reviver" as suas memórias antigas, que o subconsciente de Joel relembra o que o fez apaixonar por Clementine, e de quão importante aquelas memórias são para ele. Assim, decide esconder "Clementine" em outras memórias, de modo a não perdê-la...

Todo o filme é um bailado de sentidos e metáforas em que apartir do momento que Jim Carrey desencadeia o processo para apagar a namorada, aliam-se os efeitos especiais e truques usandos no teatro para criar um mundo surreal, onde a realidade tem impacto no subconsciente, e o subconsciente rebeldia-se contra a realidade. É impressionante a importância do quarteto Tom Wilkinson, Mark Ruffalo, Kirsten Dunst e Elijah Wood (os membros da "equipa" que apaga as memórias) para contrastar com a "inocência" e a dor dos seus clientes, servindo também para representar os conflitos éticos envolvidos. Elijah Wood é relativamente nojento na pele de Patrick, fazendo esquecer completamente a figura honesta e franca de Frodo, e Kirsten Dunst demonstra-nos aquilo que já sabemos, que quando escolhe bons papeís, é boa actriz.

Um dos maiores filmes românticos que eu já tive oportunidade de ver, é uma oportunidade para olharmos para nós, e através de alguns risos e possivelmente lágrimas, reflectir sobre o sentido da nossa vida, do nosso passado e também dos nossos erros e desgostos.

5 estrelas
Filme de Culto


Nuno Cargaleiro @ 17:35


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